INOVAÇÃO COMO PROCESSO ADAPTATIVO DA ORGANIZAÇÃO AO
SEU AMBIENTE: UMA ANÁLISE CRÍTICA A PARTIR DAS TEORIAS DA ECOLOGIA
POPULACIONAL E DA ECONOMIA EVOLUCIONÁRIA
RESUMO
O rápido avanço tecnológico, em um cenário global,
conduz as empresas a buscarem constantemente vantagens competitivas que possam
levá-las a obter resultados acima da média. Esta vantagem hoje
é muito efêmera e instável conforme afirmam os economistas
evolucionários. Neste contexto, somente as mudanças tecnológicas
e inovações podem contribuir para um desempenho superior, até
o momento em que outras empresas imitem ou repliquem os produtos, serviços,
processos, mercados, gestão e insumos de produção.
No processo de evolução organizacional só irão sobreviver
as empresas que conseguirem, por meio da inovação, se adaptarem
ao seu contexto ambiental. As empresas que operam em mercados de grande instabilidade
e mudanças operaram como um sistema aberto, um organismo, as quais interagem
constante com o seu ambiente. É importante ressaltar que nas teorias
ambientais, o contexto é um fator crítico que determina qual organização
fracassa e qual tem sucesso, selecionando os melhores competidores e eliminando
os mais fracos.
Considerando o pressuposto que o contexto ambiental influência o processo
de desenvolvimento das organizações, bem como suas inovações,
o objetivo deste ensaio é compreender como a teorias das organizações
e a teoria econômica analisam o processo de inovação como
resposta ao processo de adaptação e seleção às
mudanças no ambiente organizacional.
Palavras Chave
Inovação, Ambiente Organizacional, Ecologia Organizacional, Economia
Evolucionária.
INTRODUÇÃO
Quando se olha para as organizações que competem tanto em mercados
locais quanto mercados globais, percebe se o quanto estas têm buscando
diferenciação para continuar competindo, ou ainda sobrevivendo.
É imperativa a busca constante de vantagem competitiva para manter, pelo
menos temporariamente, desempenho superior e obter resultados acima da média.
Esta angústia empresarial pode ser sentida na corrida tecnológica
frenética que as empresas estão inseridas para alcançarem
posições de destaque no mercado. A cada dia mais investimentos
em P&D tem sido alocados para que as organizações consigam
constantemente inovar e se recriar. Inovação não só
na questão de novos produtos e processos, mas também em mercados,
modelos de gestão e novos insumos de produção. Há
necessidade de um processo contínuo de inovação (JACOBSON,
1992).
Muitos economistas e pesquisadores de estratégia creditam na inovação
a possibilidade de alavancar transformações que possam levar a
empresa a um desempenho superior. Os benefícios da capacidade tecnológica
inovadora para desempenho competitivo das empresas e países têm
sido observado, desde a Revolução Industrial por Adam Smith, Aléxis
de Tocqueville e Karl Max, e foi Schumpeter na década de 30 que enfatizou
a importância da inovação para o desenvolvimento econômico.
No campo da estratégia, as teorias evolucionárias consideram que
o importante para as organizações conseguirem um resultado temporariamente
superior é ter uma abundância de diferentes iniciativas das quais
o ambiente possa selecionar, pois acreditam que o ambiente em seu processo de
evolução espontâneo faça a seleção,
não os gestores por meio de estratégias de longo prazo (RICHARD,
2002 apud JACOBSON,1992).
A questão da economia do conhecimento coloca o assunto inovação
também em foco, como aborda o Manual de Oslo, (2004, p.31) “O conhecimento,
em todas as suas formas, desempenha hoje um papel crucial em processos econômicos.
As nações que desenvolvem e gerenciam efetivamente seus ativos
de conhecimento têm melhor desempenho que as outras”.
Mas além do papel estratégico e econômico da inovação,
é importante também compreender a inovação como
um processo. Segundo Kanter (1998, apud BRUNO-FARIA, 1998) inovação
é o processo de trazer novas idéias para o uso produtivo. Este
autor acrescenta ainda que inovação não é necessariamente
invenção e que o segredo é construir a ponte entre a idéia
e a viabilidade comercial. Neste sentido, a inovação é
fruto da idéia das pessoas que fazem parte da organização.
Conforme apresenta SUNDBO e FUGLSANG (2005) a inovação pode ser
considerada como um sistema social, na qual os atores da organização
participam.
Alguns autores discutem a possibilidade de se gerenciar a inovação.
Engel (1992 apud BRUNO-FARIA, 1998), considera a organização social
da inovação como uma necessidade de gerenciar a inovação
para fazer frente à introdução de novas instituições,
às privatizações, aos novos arranjos organizacionais e
outros desafios com as quais as instituições se defrontam nos
dias atuais. De acordo com este mesmo autor, a inovação é
entendida como mudança na finalidade impulsionada por intenções
individuais e coletivas, embora saliente que não se pode determinar uma
relação direta entre intenções e efeitos.
Partindo destas premissas, percebe-se a vinculação da inovação
com a mudança organizacional, bem como a importância da criatividade
de pessoas e/ou grupos na geração da inovação (BRUNO-FARIA,
1998).
Ao relacionar inovação a mudança organizacional, o aspecto
ambiental volta ao centro da discussão. Segundo Bressan e Lima (2000,
apud BRESSAN; LIMA, 2003, p. 22):
Mudança é qualquer modificação (planejada ou não)
nos comportamentos organizacionais, formais e informais, mas relevantes (pessoas,
estruturas, produtos, processos e cultura), que seja significativa, atinja a
maioria dos membros da organização e tenha por objetivo a melhoria
do desempenho organizacional em resposta às demandas internas e externas.
O objetivo deste ensaio não é analisar o tema mudança organizacional,
mas ao estudar inovação, a questão da mudança organizacional
é conseqüentemente abordada.
Diante dos pressupostos acima, percebe se que o ambiente tem papel preponderante
nos processo de mudança e inovação organizacional. Desta
forma, compreender como este ambiente opera e como as organizações
respondem a ele é importante para direcionar os processos de inovação
nas organizações, considerando que há limites para suas
ações uma vez que o ambiente pode determinar qual organização
fracassa e qual organização tem sucesso.
Para fazer esta análise teórica da inovação como
resposta aos processos de mudança no ambiente organizacional, será
realizada uma análise temática de textos relevantes dos principais
teóricos das teorias ecológica organizacional e econômica
evolucionária, as quais constroem seus pressupostos a partir da visão
do ambiente como ator determinante no desenvolvimento da organizacional. O objetivo
desta é ainda verificar se os conceitos são convergentes ou divergentes
em relação às questões de inovação
e mudança organizacional.
REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo HATCH (1997) há dois períodos de intenso desenvolvimento
teórico para compreender a relação entre organização
e ambiente. O primeiro ocorreu ao final da década de 1950 e início
de 1960 quando o conceito de ambiente foi introduzido para analisar a organização
como extensão da teoria dos sistemas. Antes disto, o sistema fechado
era predominante, especialmente na teoria de gestão clássica onde
a organização era tratada como se suas operações
interna fossem suas únicas preocupações. A teoria dos sistemas
estabelece a idéia de que as organizações são abertas
para seu ambiente. O primeiro período de estudo estava voltado para conceitualizar
o ambiente e demonstrar sua importância no novo conceito. O segundo período
de desenvolvimento iniciou no final da década de 1970 e continua até
hoje. Agora, o ambiente é assumidamente influente, e o interesse está
focado nos caminhos que esta influencia opera.
O primeiro período de estudo promove o estudo contingencial a fim de
refletir sobre a relação entre organização e ambiente.
O segundo período é muito intenso, produzindo as teorias da ecologia
populacional e a teoria institucional.
Teoria Contingencial
Algumas das pesquisas recentes sobre ambiente organizacional estão construídas
na observação de que as organizações se diferem
consideravelmente dependendo onde elas operam, se ambientes estáveis
ou de rápidas mudanças. Em ambientes estáveis, as organizações
se especializam em rotinas de atividade com linhas definidas de autoridade e
área distintas de responsabilidade. Aplicando a metáfora máquina,
estas organizações são chamadas mecanicistas (MORGAN, 1986).
Nesta forma de produção é enfatizadas as questões
de precisão, velocidade, regularidade, e eficiência alcançada
por meio da criação de divisão fixa de tarefas, supervisão
hierárquica, e regras detalhadas e regulamentação (Morgan,
2005, p. 17). As características das organizações máquinas
estão em sintonia com os estudos de Max Weber sobre formas de organização
burocráticas. Ele notou que a forma burocrática organiza o processo
de administração exatamente com a organização das
máquinas de produção. É importante ressaltar que
nas organizações mecanicistas a especialização das
partes, em um processos sistêmico, direciona para um sistema de alta-performance.
Em ambientes de rápidas transformações, organizações
requerem flexibilidade e empregados encorajados a aplicar suas habilidades para
se ajustarem as mudanças no ambiente de trabalho. Teoristas organizacionais
modernos descrevem esta organização como orgânica, pois
como as coisas vivas, elas se adaptam às mudanças. As organizações
orgânicas têm menos especialização e são menos
formalizadas e hierarquizadas do que as organizações mecanicistas.
É importante ressaltar que não há razões teóricas
para considerar as organizações orgânicas ou mecanicistas
como universalmente superiores. Cada uma é apropriada em diferentes condições
ambientais. A explicação quando se utiliza uma forma orgânica
ou mecanicista é a base da teoria contingencial. A forma mais eficiente
de organizar é ser contingente de acordo com a complexidade e mudanças
no ambiente.
Ecologia Organizacional
As teorias ambientais, as quais consideram a organização como
um organismo complexo o qual está intimamente afetando e sendo afetada
pelo seu ambiente, têm refletido como as organizações podem
desenvolver modelos de relações que as permitam se adaptar ao
seu ambiente (MORGAN, 1986). Como afirma Morgan (1986), “sobrevivência
tem sido apresentada como um problema de adaptação” (p.
60). Desta forma as organizações, como organismos na natureza,
dependem de suas habilidades em adquirir suprimento adequado de recursos para
sustentar sua existência. Neste esforço as organizações
devem competir com outras organizações, e como os recursos são
escassos, somente algumas sobreviverão. O ambiente é um fator
crítico que determina qual organização fracassa e qual
tem sucesso, selecionando os melhores competidores e eliminando os mais fracos.
A ecologia organizacional tem como ponto de partida o texto seminal de Hannan
e Freeman (1977) intitulado Ecologia Populacional das organizações.
A abordagem de estudo de mudança organizacional, que enfatiza os processos
de seleção ambiental, introduzido no período de 1970 tem
se tornado progressivamente influente. Inspirada pela questão “por
que há tantos tipos de organização” (HANNAN e FREEMAN,1977),
ecólogos organizacionais procuram explicar como as condições
políticas, econômicas e sociais afetam a relativa abundância
e diversidade de organização, e tentam justificar sua composição
mutante ao longo do tempo (BAUM, 1996). Os pontos de observação
da pesquisa ecológica são: (1) diversidade é uma propriedade
dos agregados de organizações, (2) organizações
freqüentemente têm dificuldade de executar e planejar mudanças
suficientemente rápidas para responder às demandas de ambientes
incertos e mutáveis e (3) a comunidade das organizações
é raramente estável – organizações desaparecem
continuamente (BAUM, 1996).
Neste cenário, ecólogos organizacionais passam a procurar explicações
para a diversidade nos níveis da população e da comunidade
da organização e focalizam as taxas de fundação
e fracasso de populações organizacionais como fatores-chave para
o crescimento e redução da diversidade. Para Hannan e Freeman
(1977) o conceito de população organizacional neste contexto é
compreendido como um agregado de organizações que devem ser semelhantes
em alguns aspectos, isto é, devem ter algum caráter de unidade.
Hannan e Freeman (1977) apontam que as organizações enfrentam
tanto restrições internas quanto externas em sua capacidade de
mudança e que, dadas estas restrições, os processos de
seleção fornecem a explicação apropriada para mudanças
nas populações organizacionais. É valido ressaltar que
há limitações na habilidade de adaptação
das organizações, ou seja, existem muitos processos que geram
uma inércia estrutural, as quais surgem tanto de arranjos estruturais
externos quanto internos. Diante deste cenário, a teoria da inércia
estrutural assume que as organizações experimentam pressões
por um desempenho confiável e por ações responsáveis,
desta forma a natureza dos processos de seleção é tal que
as organizações com características inertes têm mais
chances de sobreviver. É interessante notar a dependência da idade
e do tamanho nos processos de mudança. Para Hannan e Freeman (1984) apontam
que a probabilidade de ocorrer tentativa de mudanças em empresas declina
com a idade. O tamanho organizacional também está associado com
a resistência a mudança. Esta teoria prevê que as organizações
podem freqüentemente fracassar como um resultado direto de suas tentativas
de mudança, que ocorrem na busca da sobrevivência. Há pesquisas
recentes que tentam mostrar que não necessariamente as empresas fracassam
ao tentar mudar, mas também não garantem a sobrevivência.
Teoria Institucional
No período pós-indústrial, onde as organizações
competem em ambientes mais complexos, o que se percebe é o surgimento
de estruturas organizacionais formais em um contexto altamente institucionalizado.
As teorias institucionais buscam entender com o ambiente molda as organizações
tornando-as mais homogêneas por meio do alinhamento com as regras, normas
e padrões institucionalizados.
A teoria institucional tem sua origem nos anos 40 com os trabalhos de Robert
K. Merton e seus alunos que tinham como base a burocracia e a burocratização
de Max Weber e suas conseqüências no comportamento organizacional.
Ele não utilizava o termo institucionalização, mas provinha
uma lúcida discussão sobre os processos como as organizações
orientam suas ações por meio de regras para tingir seus propósitos
(SCOTT, 20001).
A partir destas idéias Phillip Selznick (1948) inicia a análise
institucional da organização, o qual busca distinguir entre “a
organização como expressão estrutural da ação
racional – como um instrumento desenhado para alcançar objetivos
específicos – e organizações vistas como um sistema
orgânico adaptativo, afetado pelas características sociais dos
seus participantes e das várias pressões impostas pelo seu ambiente”.
Diante destas preposições, o autor compreende a organização
como um sistema social, onde objetivos e procedimentos são moldados por
valores estabelecidos, tornando-a institucionalizada.
É importante compreender a institucionalização como um
processo. Tantos os interesses externos e internos interagem com a organização
moldando-a ao seu ambiente. Este processo faz com que a organização
seja cada vez mais formal, burocrática e racional. DiMaggio e Powel (1991)
comentam que as mudanças organizacionais são cada vez menos orientadas
pela competição, ou mesmo pela necessidade de eficiência,
mas sim a busca de se tornarem mais similares. As organizações
no inicio de seu ciclo de vida normalmente apresentam diversidade na sua forma
e apresentação, porém uma vez estabelecida há uma
inexorável busca pela homogeneização (Dimaggio e Powel,
1991).
As organizações precisam de legitimidade para se manter no mercado,
a qual é importante tanto para os agentes externos quanto internos a
organização. Segundo Meyer e Rowan (1991), “independente
de sua eficiência produtiva, organizações existem em um
ambiente altamente institucional e o sucesso está em ser isomórfico
com o ambiente alcançando legitimidade e os recursos necessários
para sobreviver” (p. 53). As características das organizações
são modificadas na direção de aumentar a compatibilidade
com as características do ambiente. DiMaggio e Powel (1991) identificaram
três mecanismos de isomorfismo institucional onde as mudanças organizacionais
ocorrem: (1) isomorfimos coercivo, (2) isomorfismo mimético e (3) isomorfismo
normativo.
O crescimento de estruturas institucionais racionalizadas na sociedade faz organizações
formais mais comuns e mais elaboradas. Estas instituições são
mitos os quais fazem da organização formal mais fácil de
ser criada e mais necessária.
É valido ressaltar que as teorias institucionais contribuíram
para a consolidação da teoria neoinstitucional econômica.
Autores como Langlois (1986) e Nelson; Winter (1982), incorporaram as idéias
da influência das regras, normas e a racionalidade limitada dos agentes
na construção das organizações.
Inovação e Economia Evolucionária
Quando se pensa em inovação geralmente se pensa em Schumpeter.
Este economista construiu sua obra em torno da questão da destruição
criativa como mola propulsora do desenvolvimento das organizações
e países (SCHUMPETER, 1942). A inovação é a fonte
de desequilíbrio no ambiente, o qual garante alguma vantagem momentânea
no ambiente até ser copiada pelos correntes e reencontrar o equilíbrio,
o qual será novamente desestabilização com uma nova inovação.
Schumpeter (1942) propõem uma relação de tipos de inovações,
as quais apresentam diferentes respostas em relação às
vantagens alcançadas:
· Introdução de um novo produto ou mudança qualitativa
em produto existente;
· Inovação de processo que seja novidade para uma indústria;
· Abertura de um novo mercado;
· Desenvolvimento de novas fontes de suprimento de matéria-prima
ou outros insumos;
· Mudanças na organização industrial.
Na evolução do pensamento de Schumpeter, os economistas evolucionários,
a partir da década de 80 desenvolveram uma visão diferenciada
com relação à inovação no que diz respeito
à questão do processo contínuo de pesquisa e melhoria continua
das inovações. Eles propõem que a descoberta empresarial
e a caracterização do mercado estejam em constante desequilíbrio
(JACOBSON, 1992, p. 798). Enfatizam a importância da variedade e da diversidade
tecnológicas e das formas em que a variedade se traduz em oportunidades
e resultados tecnológicos, os quais influenciam a capacidade de inovação
das empresas ou as direções em que as empresas inovam.
A partir da visão neo-schumpteriana de inovação, se percebe
que no processo da evolução organizacional só irão
sobreviver as empresas que conseguirem, por meio da inovação,
se adaptarem ao seu contexto ambiental.
Nesta perspectiva ambiental, a inovação é a resposta da
organização para se adaptar ao contexto. É importante ressaltar
que ambiente, de acordo com as teorias modernas de organização
é conceituado como uma entidade que está além das fronteiras
da organização (HATCH, 1997).
Inovação e mudança organizacional não são
explicitamente comparados na literatura científica, mas pode-se perceber
que estes termos aparecem conjugados nas apreciações de diversos
autores (BRUNO-FARIA, 1998). Sob a visão de Peter e Waterman (1982 apud
BRUNO-FARIA, 1998, p. 132) a inovação é precondição
para a compreensão da mudança organizacional, pois segundo eles:
Empresas inovadoras não são apenas excepcionalmente eficientes
na produção de novos inventos comercialmente viáveis: as
companhias inovadoras demonstram excepcional habilidade em responder, continuamente,
a quaisquer tipos de mudanças em seus meios ambientes. (...) Elas inovam
globalmente sua própria cultura.
Embora vários conceitos envolvam os termos inovação e
mudança organizacional, não foram encontrados estudos em que a
proposta do autor tenha sido apresentar distinção clara entre
ambos, como também foram poucas as tentativas de delimitar cada um desses
fenômenos do ponto de vista conceitual.
Segundo Bruno-Faria (1998), a inovação é um dos elementos
que promove a mudança organizacional. Ainda segundo esta autora, levanta-se
a hipótese de que a inovação pode produzir mudanças
organizacionais de ordem incremental ou radical. Compreender esta relação
entre inovação e mudança organizacional é importante,
pois em vários artigos teóricos a inovação é
vista como resposta adaptativa aos processos de mudança no ambiente.
METODOLOGIA DE ANÁLISE DO CONTEÚDO
No conjunto das técnicas de análise de conteúdo, a análise
por categoria é citada em primeiro lugar: cronologicamente é a
mais antiga; na prática é a mais utilizada (BARDIN, 1977). Funciona
por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias
segundo reagrupamentos analógicos. Entre as diferentes possibilidades
de categorização, a investigação dos temas, ou análise
temática, é rápida e eficaz na condição de
discursos diretos e simples.
Foi realizada a análise da temática inovação sob
duas categorias de estudo: (1) a inovação como resposta aos processos
de seleção e adaptação e o papel do gestor no processo
de inovação. Estas categorias foram pesquisadas no texto seminal
sobre ecologia organizacional de Hannan e Freeman intitulado Ecologia Populacional
nas Organizações (1977), o texto de Joel A.C. Baum entitulado
Ecologia Organizacional (1996) e o texto Teoria Evolucionária na Economia
de Nelson e Winter (2002) sobre economia evolucionária. O objetivo ao
analisar estas duas correntes teóricas foi verificar se as mesmas são
convergentes e/ou divergentes, a fim de construir uma reflexão crítica
do constructo inovação.
ANÁLISE DA INOVAÇÃO SOB A PERSPECTIVA ECOLOGICA E EVOLUCIONÁRIA
Inovação como resposta aos processos de seleção
e adaptação
Na perspectiva da ecologia populacional, em oposição à
premissa de que as organizações mudam no sentido de adaptação
ao meio, Hannan e Freeman afirmam a mudanças e inovações
nas organizações são restringidas por forças inerciais
(inércia estrutural), as quais são geradas internamente (investimentos
em infra-estrutura e pessoal, dinâmica das coalizações políticas,
normas) e externamente (trocas com outras organizações, necessidades
de legitimidade pública). Segundo Hannam e Freeman (p. 71), “existem
muitas limitações na habilidade de adaptação das
organizações, ou seja, existem muitos processos que levam a inércia
estrutural”.
As organizações existentes freqüentemente têm dificuldades
para mudar sua estratégia e estrutura de forma suficientemente rápida
para acompanhar as demandas de ambientes incertos e mutáveis. A maior
parte das inovações organizacionais ocorrem no início da
história das organizações e populações.
Essa teoria seria talvez mais apropriadamente denominada “teoria da restrição
à mudança e a inovação”. De acordo com Hannan
e Freeman, embora alguns tipos de mudanças ocorram freqüentemente
nas organizações e embora, algumas vezes possam a ser radical,
a natureza dos processos de seleção é tal que as organizações
com características inertes tem mais chance de sobreviver. A teoria da
inércia estrutural assume que as organizações sofrem pressões
por performance confiável e por ações responsáveis.
Desta forma, a institucionalização dos propósitos e a padronização
das rotinas organizacionais geram confiabilidade às organizações,
e conseqüentemente pressões inercias mais fortes.
A visão evolucionária parte da perspectiva que em ambientes de
grandes transformações, em constante desequilíbrio, as
organizações não tem como fazer estratégias de longo
prazo, as organizações devem se adaptar rapidamente aos seus contextos
ambientais para conseguirem sobreviver nos processos de competição.
Segundo Nelson e Winter (p. 25), “o pensamento evolucionário conduz
para a teoria da competição entre firmas na indústria onde
a inovação é importante para a firma e na dinâmica
da indústria”. As fontes de inovação são as
pesquisas organizadas e os esforços de desenvolvimento da firma. Um inovação
de sucesso pode levar a organização a alcançar lucratividade,
e assim gerar ainda mais investimentos em P&D. Desta forma a inovação
é uma resposta adaptativa ao ambiente de rápidas transformações,
onde há um desequilíbrio constante.
Ainda de acordo com esta teoria, para sobreviver ao processo de seleção,
as organizações devem desenvolver uma variedade de ações
e estratégias que maximizem o lucro, a fim do ambiente selecionar aquelas
que melhor se adaptem a sua dinâmica. De acordo com Alchian (1950, apud
Nelson e Winter, 2002, p. 26), “o que realmente conta é a variedade
de ações atualmente experimentadas, a partir disto que o sucesso
é selecionado, não a partir de um conjunto de ações
perfeitas”.
Para estes teóricos a inovação parte de um processo de
aprendizagem, o qual é cumulativo e evolucionário. Nelson e Winter
comentam sobre a importância do “path dependence” no desenvolvimento
das organizações. Conforme afirma os autores (p. 28) “a
alta competência depende de aprendizado sustentado pela experiência”.
Analisando a inovação a partir destas perspectivas percebem-se
pontos distintos nas duas correntes:
(1) enquanto os ecólogos visualizam a inovação somente
no começo das organizações, para os evolucionários
a inovação é um processo de aprendizagem organizacional,
evolucionário. Sendo assim, as organizações com mais experiências
têm maior chance inovar, adaptar ao seu ambiente e ser selecionada por
este.
(2) a inovação / mudança na perspectiva ecológica
é um processo muito difícil de ocorrer em função
da inércia estrutural das organizações, que restringe a
mudança rapidamente conforme o ambiente exige. Por outro lado, os economistas
evolucionários creditam na inovação a resposta adaptativa
as constantes mudanças no contexto, o qual está em constante desequilíbrio.
Por meio de inovações de sucesso a organização alcançará
lucratividade acima da média, mesmo que temporariamente, pois assumem
que o ambiente está em constante desequilíbrio.
Papel dos indivíduos / gestores nos processos de inovação
e mudança
Sob as condições de incertezas do ambiente, existem severas
restrições às habilidades dos indivíduos para conceber
e implementar corretamente mudanças e inovações que aumentem
as chances de sobrevivência e sucesso organizacional. Para os teóricos
ecológicos os gestores não controlam de modo total os resultados
organizacionais. Em contraste com as abordagens da adaptação,
que explicam mudanças na diversidade organizacional em termos de escolhas
estratégicas cumulativas e mudanças nas organizações
existentes, as abordagens ecológicas realçam a criação
de novas empresas e o desaparecimento de outras.
A posição de Hannan e Freeman é definitiva sobre a restrição
do papel do gestor no processo de seleção das organizações,
conforme pode ser compreendido nesta citação (p. 71):
De maneira clara, os líderes das organizações realmente
formulam estratégias e as organizações se adaptaram às
contingências do ambiente. Como resultado, ao menos alguma relação
entre estrutura e ambiente deve refletir o comportamento ou a aprendizagem adaptativos.
Contudo não existe uma razão para concluir que a grande variabilidade
estrutural das organizações reflete somente ou determinantemente
uma adaptação.
O modelo formal evolucionário assume a racionalidade limitada, no sentido
de que os atores das organizações não são moldados
a desenvolver a capacidade de “ver por meio” do contexto, no qual
ele está ajustado com suficiente capacidade para determinar a melhor
coisa a ser realizada ou compreender a estrutura causal de suas experiências.
Segundo Nelson e Winter (p. 40),
A maioria dos modelos da economia evolucionária são suficientemente
complicados para que os modeladores ou qualquer outro tenha muita dificuldade
em deduzir a melhor estratégia para todos os atores.
Nesta perspectiva, as duas correntes consideram a racionalidade limitada dos
individuo / atores, porém com algumas diferenças. Os ecólogos
restringem quase que por completo a participação do individuo
/ gestor no processo de adaptação e seleção das
organizações. Parte de uma visão determinista do ambiente
regulando todos os processos da organização. Na visão dos
economistas evolucionária, o individuo é um ator importante no
processo de inovação, pois estes participam do processo de aprendizagem
que conduz a evolução da organização.
CONSIDERAÇÕES
O processo de globalização iniciado no final do século
XX conduziu as organizações para um ambiente complemente dinâmico,
turbulento e instável. Compreender como as organizações
podem lidar com este contexto é um fator decisivo de sobrevivência.
Diversas teorias em diferentes disciplinas estudaram e continuam estudando como
este cenário impacta as estratégias, desempenho, estrutura econômica
e financeira, e comportamental das organizações.
Este ensaio teve o objetivo de focar um dos pontos importantes deste contexto
de rápidos avanços tecnológicos, que é a inovação.
Este assunto tão amplo e complexo é hoje estudado tanto como produto
das estratégias organizacionais e das pressões ambientais, e ainda
estudá-la como processo.
Analisar a inovação sob a perspectiva das teorias da ecologia
organizacional e da economia evolucionária, ambas com perspectivas ambientais,
abre um leque de reflexões em torno do papel do individuo / líder
na condução de processos de mudança e inovação
que podem levar a organização se adaptar ou não ao seu
contexto, conseguindo alcançar desempenho superior temporário.
Dentro das analises apresentadas é possível verificar que esta
questão é central, porém sem aprofundamento e pesquisas
empíricas nas duas correntes. Há autores pesquisando as competências
do líder adaptativo, os quais estudam o ambiente a todo o tempo, procurando
por sinais que possam ser utilizados para acomodar suas organizações
às mudanças do ambiente. Validar se estas competências gerenciais
podem ou não fazer a diferença no processo de seleção
das organizações em ambientes de grandes incertezas, como o ambiente
das empresas de tecnologia.
É interessante ressaltar que a teoria da ecologia organizacional sofre
críticas duras, pois a consideram uma teoria anti-management (CUNHA,
1999). Suas principais críticas estão relacionadas ao papel passivo
e adaptativo dos gestores e de resistência a mudança induzida pelo
ambiente interno; a aceitação de que são as populações
que mudam, e não as organizações; e a transposição
da teoria darwiniana para o contexto organizacional sem restrições.
Desta forma, sugere-se aprofundar a pesquisa na temática individuo /
líder como ator que conduz os processos de inovação como
resposta adaptativa.
AUTORA
Fabíola Barrella, mestranda em Administração de Empresas,
pós-graduação em Gestão de Marketing e graduada
em Comunicação Social. Coordenadora dos programas de treinamentos
e MBA´s de Recursos Humanos e Desenvolvimento Gerencial da Integração
Escola de Negócios. Especialista em projetos de educação
a distância síncrona e assíncrono. Palestrante no CBTD 2001
sobre Educação a Distância no Desenvolvimento Corporativo.
REFERÊNCIAS
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of Organization Studies, cap. 1.3, p. 77 - 114, Sage Publications, London, 1996.
BRUNO-FARIA, Maria de Fátima. Criatividade, inovação e
mudança organizacional. In: LIMA, Suzana M. Valle. Mudança Organizacional:
Teoria e Gestão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003 p. 111-144.
CUNHA, M. P. Ecologia organizacional: implicações para a gestão
e algumas pistas para superação de seu caráter anti-management.
Revista de Administração de Empresas, v.39, n.4, p.21-28, 1999.
DIMAGGIO, P.; POWELL, W. The Iron Cage Revisited: Institutional Isomorphism
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FUGLSANG Lars; SUNDBO, Jon. The organizational innovation system: three modes.
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JACOBSON, Robert. The austrian school of strategy. Academy of Management Review.
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